Sexta-feira (13), às 7 horas embarquei em um ônibus leito da empresa Guanabara destino a Miranda do Norte-MA, chegando às 12h50, o motorista do ônibus 2269, qualificado e conhecedor da política de acessibilidade a pessoa com deficiência, muito solícito, atencioso e gentil me orientou a localizar o guichê da empresa, lamentavelmente o mesma encontrava-se fechada, fui acomodado em um acento enquanto aguardava o agente para imprimir o bilhete de volta a Teresina agendado para o dia 15 às 12h.
O que é inaceitável foi a postura do senhor de prenome Rogério, que abandonou seu local de trabalho para o almoço no momento da chegada do ônibus, o mesmo foi veemente em rechaçar minha crítica pelo ato desabonador protagonizado, disse lhe ser pessoa com deficiência visual necessitando do apoio da empresa Guanabara para embarque em outro carro com destino a Arari-MA, ele de forma descontrolada, intransigente, truculenta, arrogante e inacessível me agrediu verbalmente de forma inaceitável, asseverando que sou um cego que não poderia andar sozinho, deveria ter uma pessoa comigo. Rechacei a ignorância do desprovido funcionário o qualificando de criminoso pelo gesto excludente do crime de “capacitismo”, cuja denominação tenho certeza que o mesmo jamais ouviu falar. O resultado foi drástico, fui abandonado a minha própria sorte em frente ao guichê da empresa Guanabara sem qualquer tipo de explicação.
Não tenho nenhuma intenção de provocar sua demissão por esse tipo de constrangimento público, discriminação, preconceito e exclusão a que fui vítima na bela rodoviária edificada pela minha contemporânea do Ginásio arariense a prefeita Angélica. Tenho convicção que esse moço também é vítima, por não ter tido qualquer tipo de treinamento no quesito capacitação a política cidade inclusiva transversal, que assegura direitos a pessoa com algum tipo de deficiência.
Nesse bombardeio que me encontrava surgiu um rapaz aparentando timidez e estarrecido com o que acredito ter presenciado, me ofereceu auxílio se identificando ser garçom do restaurante self-service dois irmãos, me auxiliando ir ao banheiro para higienizar as mãos e retornar para o almoço. Toda a prestação de serviço disponível nos grandes centros do Brasil me foi oferecido por ele, após a refeição conversamos enquanto aguardava o micro-ônibus para a cidade de Arari.
O nome desse rapaz é Whindersson, detentor de alguns cursos técnicos realizados no SENAI, mas por necessidade de uma renda desenvolve atividade de garçom, o parabenizei pelo gesto de muita sensibilidade, gentileza, profissionalismo e interesse de prestar excelente serviço em nome do seu patrão de prenome Paulo, um paraibano empreendedor no Maranhão de forma bem-sucedida. É importante informar que esse jovem garçom não recebeu nenhuma informação que o qualificasse a prestar um excelente atendimento disponibilizado a mim, mas em conversa que tivemos percebi nesse rapaz um autodidata, interessado em evoluir como cidadão e ser humano, nos despedimos ao tomar a van.
Em Arari fiquei hospedado no hotel Portal do Mearim, na expectativa da grande solenidade do dia 14 em homenagem ao padroeiro Bom Jesus dos Aflitos, após breve descanso fui a missa campal às 19h, quando uma multidão de fiéis se fazia presente, o evento foi encerrado às 22h.
Dia seguinte às 8h do dia 14 houve a missa celebrada por Dom. Sebastião Bandeira, Bispo da Diocese de Coroatá, a igreja lotadíssima, o bispo demonstrando competência, controle emocional e vastíssimo conhecimento bíblico desenvolveu uma das mais belas homilias que tenho conhecimento, oportunizou alguns fiéis que fizessem comentários referentes a milagres atribuídos ao bom Jesus dos Aflitos.
Ao me manifestar fui contemplado, descrevi com riqueza de detalhes o episódio no ano de 1968, quando na ausência do Pe. Clodomir Brandt e Silva, diretor do Ginásio arariense, sem autorização retirei o carro de marca Rural willys da garagem estando a bordo 16 internos, fomos até Miranda do Norte, fizemos um lanche e ao retornar imprimindo grande velocidade capotei o veículo em uma curva semelhante a um S, o carro tombou umas três vezes e parou com os pneus para cima, atordoados saímos todos rastejando, fomos surpreendidos pelo então prefeito Raimundo de Mário, que no momento passava em um Jipe da prefeitura e nos prestou os primeiros socorros, levando a primeira leva de internos irresponsáveis para o internato, em seguida tomou outras providências para rebocar o carro juntamente com os demais recalcitrantes.
O rumoroso episódio, quando todos saíram ilesos e incólumes não pode ter conotação diferente do que milagre, que poupou nossas vidas para que fossemos esses homens que somos nos dias de hoje, que o diga o desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão Dr. Cleones de Carvalho Cunha, sentado no banco do carona ao meu lado. Dom Sebastião, muito inteligente, palavra fácil dotado do dom da comunicação e do convencimento desenvolveu em sua homilia, comparativos entre o apóstolo Paulo, e nós, jovens adolescentes que imaginávamos poder tudo, sem temer qualquer consequência. De fato eu não me preparei para aquele momento, mas confesso, foi muito emocionante, gratificante e histórico meu testemunho do fato milagroso.
Às 17h retornamos para a procissão pelas ruas e avenidas da cidade voltando à praça da matriz por volta das 19h30 para a realização da missa de encerramento, concluindo as festividades às 22h. Os cantos, hinos e louvores foram executados pela banda formada pelos alunos do ginásio arariense, magníficos músicos forjados no histórico educandário situado às margens do rio Mearim. Ante de ir para o hotel marquei presença na quermesse na Praça da Graça, barracas com maravilhosas iguarias de preços pequenininhos.
Às 8h do dia 15 deixei o hotel sendo transportado à rodoviária de Arari no carro da proprietária do hotel, senhora muito gentil, solícita, como também o seu esposo e funcionários. Ao chegar na rodoviária de Arari simultaneamente estacionou um ônibus da empresa Transporte Vitória, procedente da cidade de Penalva, me aproximei do ônibus acompanhado do funcionário do hotel sendo interceptado de forma truculenta pelo motorista do ônibus, indagando do meu acompanhante se eu estava só, este informou positivamente, a resposta foi desastrosa, “ele não pode viajar sozinho e sem pagar a passagem”, acrescentando em sua idiotice verbalizada que eu tinha obrigação de andar com uma pessoa para me ajudar, pois sou cego.
De forma estupefata repudiei as boçalidades daquele pobre-diabo me identificando apresentando minha credencial de jornalista expedida pela Federação Nacional dos Jornalistas-FENAJ, ele de forma intransigente disse, “isso não é nada, o que interessa é que você não pode andar sozinho pra lugar nenhum”, nesse momento houve a intervenção de uma professora que acompanhava tudo do interior do ônibus, me auxiliando adentrar o veiculo indicando a poltrona ao seu lado.
O motorista irredutível e inconformado passou a me adjetivar com palavras de baixo calão e desrespeitosas como, ignorante, boçal, mal educado e outros, mais uma vez fui vítima de um indivíduo desqualificado e desprovido da mínima capacidade para prestar serviço a sociedade. Seguimos finalmente o destino, chegando em Miranda do Norte o motorista abriu a porta e saiu correndo informando 10 minutos, fui ajudado pelos passageiros a desembarcar, fiquei indagando para quem pagar o valor de quinze reais da passagem, sem lograr êxito.
Fiquei com alguns passageiros por 15minutos sem que o motorista retornasse para seguir viagem para São Luiz. Um segurança se aproximou e perguntou o que estava havendo, a professora que estava bastante interessada no episódio conversou com o este agente público, o mesmo sem ter o devido conhecimento asseverou, “ele pode ir embora porque cego não paga”. Percebe-se facilmente que a emenda saiu pior que o soneto, o crime de capacitismo mais uma vez se apresentou merecedor de reconhecimento de troféu.
Dias 14, 15, 16 e 17 de julho em Brasília foi realizado o V Fórum Nacional de Garantias de Direitos a Pessoa com Deficiência, mais de 2 mil pessoas desse segmento marcaram presença naquela solenidade, inclusive a senadora Mara Gabrilli, cadeirante, que tem grande repercussão perante o Congresso Nacional da República Federativa do Brasil.
O filho da excelentíssima prefeita de Miranda do Norte, senhora Angélica, é deputado federal, detentor de mandato na câmara alta do Brasil. Será que o Maranhão não pertence a esse país de mãe preta e pai João? Lamento profundamente a degradação do Estatuto da Pessoa com Deficiência do Brasil- LBI nº 13,146/2015, artigos 2º, 9º e 63º.
Carlos Amorim DRT 2081/PI
Procissão de Bom Jesus dos Aflitos, Arari-MA