Cristo Redentor sem proteger ninguém

Em 1964, nesta data eu tinha 13 anos de idade, nascido e criado até então nas dependências da extinta Escola Normal Antonino Freire, (hoje funciona o Palácio da Cidade, Prefeitura Municipal de Teresina). Lembro-me perfeitamente que por volta das 10h da manhã, ao seguir para o Mercado Velho, com uma cesta na mão para buscar frutas na banca da dona Geervina, me deparei com muitas viaturas do exército, principalmente Jeeps, na frente da então Assembleia Legislativa do Estado do Piauí, atualmente Secretaria de Estado da Cultura, alguns deputados eram conduzidos amarrados com correntes, cordas, e jogados no piso dos veículos em direção à CR localizado nas proximidades, outros para as casernas do 25º BC e 2º BEC.

Pela primeira vez ouvi falar em comunismo. Absorvi aquelas informações como verídicas no auge da minha inocência, desconhecimento e ignorância, imaginava ser providências importantes para proteger o Brasil e os brasileiros, ledo engano, ao longo de 21 anos, o “pau” comeu solto no Brasil, com os milicos distribuindo “porrada” pra tudo quanto era lugar. As Instituições brasileiras, todas desativadas, defenestradas e dissolvidas, o Congresso Nacional, foi fechado. era a vontade de “um só Imperador”.

Lembro-me que até mesmo as professoras que lecionavam o curso primário, na Escola Modelo Arthur Pedreira e Grupo Escolar Felix Pacheco, foram invadidos por forças federais, impondo o que o Presidente de Plantão, Humberto de Alencar Castelo Branco determinava – que antecedeu Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e finalmente, o General de Cavalaria João Batista de Figueiredo, foram 21 anos de uma história trágica, vivida pelos brasileiros.

No decorrer desse processo as polícias militares funcionaram como forças auxiliares, quando os comandantes de fato e de direito eram nomeados pelas suas armas, ou seja, o EMFA (Estado Maior das Forças Armadas) e todos os veículos de comunicação submetidos à censura horripilante, não era pronunciado, escrito ou comentado uma única vírgula que não fosse autorizada pelos censores. Veio então a revolta popular iniciado através da Emenda Dante de Oliveira, que foi fragorosamente derrotado, mas nem tudo foi perdido, través do processo de redemocratização dos anos 70 que os exilados retornaram ao Brasil, graças a anistia ampla, geral e irrestrita, assumida pelo último presidente General do Brasil (Figueiredo).

Nos anos 80 já começamos a usufruir das conquistas conseguidas, processo de garantias de direitos, liberdades, direito ao voto, direito político, direito à cidadania, direito a ampla defesa assegurado pelo processo democrático conquistado à duras custas, na base do “pau de arara”, dissolvimento de concentração de trabalhadores, organização sindical e partidos políticos. Conquistamos após um “arranca rabo” terrível, eleger os constituintes brasileiros, que elaboraram a Carta Magna brasileira de 05 de outubro de 1988, culminando com a eleição do primeiro presidente civil eleito, José Sarney, em substituição ao Tancredo Neves, que faleceu após ter sido eleito.

Imaginei já na minha fase adulta, que os problemas do Brasil seriam finitos naquele processo de grande euforia popular que vivíamos. Lamentavelmente, foi apenas e tão somente, “um rio que passou em minha vida” – do poeta e extraordinário intérprete, Paulinho da Viola.

Para concluir, quero elencar a máxima que assegura “está na hora certa, no momento exato”. Em um certo dia, ao seguir em um ônibus para Copacabana, ao lado do cemitério São João Batista, imenso congestionamento, ainda na Rua Real Grandeza no bairro Botafogo, me chamou atenção, desci do veículo e pedi informação a um policial de trânsito o motivo do transtorno, a resposta veio como uma bomba: “está sendo realizado o velório do ex-presidente Garrastazu Médici”. Abdiquei dos meus compromissos agendados, segui para a capela, com mais ou menos 30 minutos ao lado do corpo, houve um desentendimento na entrada do velório, xingamentos, “pontapés”, socos, “rabo de arraia”, e o pessoal do “deixa disso” interviu para evitar uma tragédia, todos de arma na mão tentando inserir no local o ex-presidente do Brasil,

Figueiredo, que foi repudiado, rechaçado e considerado persona não grata para permanecer no recinto, em virtude de que havia assinado o processo democrático brasileiro para eleição de um presidente civil que a princípio seria o piauiense Petrônio Portela, que faleceu em decorrência de um mal súbito, mas, também foi impedido o processo de ascensão à presidência de outro militar, já na fila para o exercício.

Testemunhei todos esses fatos culminando com a oportunidade de estar a beira da sepultura do general. Lembro-me o final da mesma do nº 37 – não sei se os restos mortais continuam nesse endereço. Aos donos do poder, bravateiros, loroteiros e mentirosos faço um alerta: o processo ditatorial no Brasil foi uma realidade, portanto não o deixe ser esquecido às novas gerações.

Carlos Amorim DRT 2081/PI

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Jornalista Carlos Amorim
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