O neto de um velho armênio

Sexta-feira (17) estive em um evento na Universidade Federal do Piauí denominado Salão do Livro do Piauí –SALIPI. Sou pessoa com deficiência visual, e mais uma vez me deparei com o descaso protagonizado pelo prefeito de Teresina Zezim da Lagoa da Rosa, o índio governador do Piauí Wellington Dias, a instituição que promoveu o evento, autoridades e poderes desrespeitando de forma brutal a politica de acessibilidade vigente, quando enfrentei obstáculos formados pelos 3 canceres que afligem as garantias ao ir e vir das pessoas com algum tipo de deficiência.

É inexplicável a existência em pleno século XXI de barreiras arquitetônicas, atitudinais e comunicacionais, fato deprimente, humilhante e vergonhoso que agridem frontalmente a comunidade de pessoas com algum tipo de deficiência na capital do Piauí, como também em todo o estado, é importante frisar que estou me referindo as instalações da Universidade Federal do Piauí, que deveria ser exemplo no quesito inclusão.

Em virtude do gigantesco assédio ao cantor Zeca Baleiro, todos tentando contatá-lo no camarim, me retirei antes que ele deixasse o recinto, recebi o auxílio e solidariedade de uma jovem de prenome Vera, e um agente de segurança da universidade de nome João Nílton, enfrentaram verdadeira via-crúcis para conseguir transpor a inacessibilidade para que eu retornasse a minha residência, 10 horas da noite todas as cooperativas de táxi uníssonas informavam ao usuário do sistema não haver carros disponíveis. No quesito transporte coletivo urbano foi igual a pé de cobra (impossível vê-los), portanto nota zero ao transporte público de Teresina. Vamos esquecer a parte podre do evento em um canto qualquer do campus federal.

Foi veiculado uma intensa mídia nas empresas de comunicação, propagando, divulgado e massificando a presença do cantor José de Ribamar Coelho Santos (Zeca Baleiro), apesar das restrições sanitárias acorreram ao local, milhares de pessoas, fãs, admiradores, críticos, imprensa etc., é evidente que eu não poderia ficar ausente desses dois momentos históricos, duas horas de palestra no auditório e duas horas de show em um espaço externo absolutamente lotado, quando a massa eufórica, entusiasmada e emocionada formou belíssimo coro na execução da música telegrama, foi algo fabuloso, antagônico, inesquecível como também único.

Tenho acompanhado os shows do Zeca aqui no Piauí e em outros estados, na minha avaliação o melhor de todos até então foi realizado em Pedro II, no evento denominado festival de inverno, naquela ocasião Zeca Baleiro enfrentou violento temporal, apesar das intempéries os súditos do menino levado da cidade de Arari-MA, baixada do Mearim, não arredaram pé, motivando o artista a permanecer brilhando mesmo debaixo d’água.

Como comecei a narração as avessas, ou seja, de trás para frente, quero me ater a palestra ocorrida no auditório, tendo como mediador o poeta Salgado Maranhão. No decorrer de sua manifestação mencionou o José Reinaldo, autor da iniciação do Zeca a realidade atual, “exímio violonista”.

Por ter convivido com a sociedade arariense, em especial os pais do Zeca Baleiro, Tonico Santos e Socorro Santos foram meus professores no ginásio arariense, por 4 anos convivi na mesma sala com o José Reinaldo, o Abdomacir era um pouco mais adiantado, Virgínia, Lucinha e Hilda as conheci frequentando a casa da professora Socorro, evidentemente com algum tipo de pretexto, tinha a intenção de namorá-la, admirava sua performance, adolescente rebelde, independente, vivia além do seu tempo. Lembro-me nitidamente dos shorts bem curto que exibia ao pedalar sua bicicleta na via pública da cidade.

Por ter assumido temporariamente o serviço de alto-falante “A voz de Arari” pertencente a arquidiocese, na ocasião em substituição a Rosinha, impossibilitada por problema de saúde, ao retornar havia perdido a vaga, em virtude dessa função tornei-me muito popular, até hoje reconhecido por filhos e netos dos meus contemporâneos. O Pe. Clodomir Brandt e Silva, de saudosa memória ouvia atentamente as minhas manifestações referentes as questões sociais, culturais, políticas etc., em decorrência desses fatos fui convocado para assinar uma crônica no jornal de Arari, produzido, revisado e prensado sob a anuência do vigário “Leleco”.

Estou descrevendo o que ocorreu na minha vida de estudante interno no ano de 1966, quando na segunda quinzena de março desembarquei de um automóvel Aeroilis 4 portas, à Rua João Inácio Garcia nº 40, acompanhado de um tio de prenome Crispim. Fomos recepcionado pelo padre, meus documentos foram conferidos e naquela tarde fui a secretaria do ginásio arariense atendido pela diretora Concita, em seguida matriculado no 1º ano ginasial, portanto convivi diariamente com a professora Socorro Santos, do seu primeiro dia de gravidez até quando retornou do Hospital Dutra, trazendo em seu colo um rebento, que pela obra da natureza e contemplado com a dádiva divina encantaria o mundo com suas canções maravilhosas, autor de poesias que deixam os críticos de quatro, reconhecido por seus próprios concorrentes, a maioria deles mitos da Música Popular Brasileira como sendo verdadeiro gênio do Maranhão, comedor de capadim capturados nas deliciosas águas do Mearim. É importante informar que recentemente seu trabalho em Portugal foi agraciado com o prêmio Grammy Latino, na minha concepção de menor expressão que o Prêmio Sharp.

Em 1970 fui expulso do internato arariense por ter cometido infração grave, retirei a rural da garage na ausência do Pe. Brandt, lotei de internos e fomos tomar cerveja em Miranda do Norte, ao retornarmos capotei o veículo algumas vezes em uma curva semelhante a um S, fomos socorridos pelo Raimundo de Maro, então prefeito de Arari, que na ocasião passava em um Jipe. Ficou muito claro que naquele dia fomos protegidos pela mão poderosa de Deus. A Bíblia sagrada nos ensina que o Deus todo poderoso pode contar todos os fios do couro cabeludo de nós humanos, portanto nascemos predestinados para uma missão, indubitavelmente a do Zeca Baleiro todos nós sabemos qual foi, mas como nada vem de graça, ele teve que fazer sua parte, sua trajetória foi árdua, cansativa, angustiante e sacrificante, agora colhe os louros do seu trabalho, os frutos da sua competência, inteligência, insistência e abnegação.

Tenho imenso orgulho, vaidade, felicidade e privilégio em ter tido a oportunidade de conhecer as entranhas desse monstro sagrado, do início de sua vida, seria impossível a qualquer ser humano vaticinar ou imaginar ao menos de longe em que se transformaria aquela criança, sem a mínima sombra de dúvida é o comando de Deus perante todas as coisas.

Carlos Amorim DRT 2081/PI

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Jornalista Carlos Amorim
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