Estive na posse do governador Rafael Fonteles no Palácio de Karnac, fui acomodado em um setor próximo aos prefeitos convidados, após o término da solenidade uma senhora me abordou perguntando sobre dona Baíca, minha mãe, respondi positivamente, mas fiz uma interrogação, a senhora conhece minha mãe de onde? A resposta veio precedida de algumas explicações. Estudei na Escola Normal Antonino Freire, e a sua mãe era minha amiga, conheci vocês ainda criança, perguntou se me lembrava de dona Tota, professora de educação física, respondi que sim, acrescentando que fui mascote da mesma, levava um saco com várias bolas e as cadernetas para anotar a frequência das alunas na quadra, e tinha também outra atribuição que era remunerada, enquanto a professora ministrava a aula eu lavava o seu Jipe que ficava estacionado em frente a escola, após essa tarefa retornava à quadra para trazer de volta o material para o setor esportivo, as vezes pegava carona até a Cirandinha, loja da professora, localizada à Rua Coelho Rodrigues entre as Ruas Simplício Mendes e Barroso no meio do quarteirão do lado da direita no sentido do relógio da Praça Rio Branco.
Após esse breve diálogo a dona Conceição fez uma pergunta impactante. Você se lembra da mãe do governador? Respondi negativamente, ela retrucou informando, a Nereuda é filha da dona Tota, professora de educação física. Por alguns segundos parei e retroagi a mais de 60 anos, rapidamente digeri aquela informação, embora o governador Rafael Fonteles tenha mencionado em seu discurso o nome de sua mãe e o nome de sua avó dona Tota, que vaticinou que ele seria governador do Piauí, esses detalhes passaram despercebidos por mim, só fiz a junção dos fatos ao recuperar mentalmente as imagens do meu convívio com a mãe do governador do Piauí, como também a sua família, a caçula Danusa, Nereuda e Jaira.
Convivi com a Nereuda ainda menina, era muito atentada, algumas vezes acompanhava sua mãe na ida para a escola. Certa ocasião dona Tota como de costume antes de iniciar sua tarefa ficava no portão conversando com as outras professoras, a garota muito indisciplinada entrava para sala de esportes para mexer na balança e demais materiais esportivos. Para adentrar a sala, tinha que descer 3 degraus, por um descuido escorregou e começo a chorar, pois tinha arranhado o joelho, eu a tomei nos braços e providenciei os primeiros atendimentos antes que sua mãe chegasse assustada em disparada, eu a tranquilizei dizendo que não tinha sido nada, apenas um arranhão no joelho.
A minha Irmã Celene, nasceu em 1956, naquela época o governo do estado pagava os servidores com atraso de até 8 meses, era muito difícil para todos, minha mãe era responsável pela merenda do colégio e também comercializava lanche na cantina da escola, Dona Tota sentindo nossa dificuldade mandou que minha mãe recebesse gratuitamente 2 litros de leite todos os dias em sua residência à Rua David Caldas 531, para amenizar as dificuldades. Seu Ginu, pai de dona Tota era dono de vacaria, e comercializava o leite, vários tambores abasteciam a comunidade daquela área residencial. Não lembro por quanto tempo acordei 5 horas da manhã para fazer esse trajeto de ir e vir nesse compromisso.
Dona Tota também era dona da casa das Rendas, localizada à Rua Eliseu Martins, onde hoje funciona uma casa lotérica, acredito que o prédio continua sendo propriedade da família, Costumeiramente visitava a loja para algum mandado ou afazeres, geralmente encontrava por lá a Jairinha, muito bonita, educada e gentil, eu tinha uma admiração muito grande por ela, lamentavelmente eu tinha um comportamento de marginal adolescente, era o dia todo correndo atrás de bola na Praça da Bandeira, estudar não era minha praia, por esse motivo fiquei 4 anos interno em um colégio de padre na cidade de Arari-MA, foi quando perdi o contato com todos. Ao concluir o curso ginasial parti para o Rio de Janeiro retornando em 2000 já aposentado, com minha vida socioeconômica financeira concretizada, mas lembro nitidamente desses episódios que descrevo, e tantos outros que estão gravados na minha memória.
Tenho 71 anos de idade, deixo um especial abraço a todos esses membros mencionados na matéria, que descrevo com fidelidade, uma parte da existência desses nossos amigos de grande importância para muitos teresinenses e piauienses. Quero em nome da minha mãe Maria Rodrigues de Amorim, popularmente conhecida por Baíca, agradecer todas as gentilezas, favores e atenção da professora Tota, concedidos a todos nós, ela nos apadrinhou e tratava minha mãe como amiga, por dezenas de vezes frequentou nossa casa pra merendar bolo frito e café com leite, sempre acompanhada de uma das filhas, as quais minha mãe adotava como filha.
Carlos Amorim DRT 2081/PI