Dignidade sim, piedade não

Seria importante que alguma entidade fizesse pesquisa junto aos parlamentos municipais, estaduais e federais do Brasil com o objetivo de identificar a quantidade de políticos detentores de mandatos com deficiência. Tenho notícia extra-oficial de alguns gatos pingados espalhados nesse imenso território brasileiro de mãe preta e pai João. Dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico-IBGE confirmam a existência de 25 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência.

O Brasil possui uma das mais modernas legislações de garantia de direitos a essa comunidade, toda ela discutida e aprovada pelo Congresso Nacional e sancionado pelo Presidente da República Federativa do Brasil. Se fizermos um estudo superficial dos projetos de lei apresentados ao Congresso Nacional, para discussões e debates  nas comissões temáticas, quantos desses parlamentares são pessoas com deficiência? O número é ínfimo talvez chegue a zero, portanto essas autoridades não possuem conhecimento para legislar como representantes autênticos de um cego, cadeirante, paraplégico e moletantes, pois eles jamais sofreram na pele os humilhantes constrangimentos que somos submetidos todos os dias, eles não tem calo doendo no pé, eles não usam sapato apertado para saberem qual lugar que lhe aperta o pé, eles não tem pedra dentro do sapato, portanto não conhecem as limitações, dificuldades e riscos de todo  tipo que sofrem ao desenvolver suas atividades da vida diária.

A importantíssima Lei 7.853 de 20 de outubro de 1989, na minha concepção um verdadeiro estatuto, é da lavra do atual presidente do senado José Sarney, que atendeu ao pedido de um amigo seu que tinha uma pessoa da sua família com deficiência que sofria os mais diversos e humilhantes constrangimentos. O nobre político em respeito e atenção ao amigo apresentou projeto de lei ao Congresso Nacional que rapidamente o transformou na maior referencia de garantias de direito a pessoa com deficiência. José Sarney estava longe de imaginar o grande benefício que fez a milhões de brasileiros que sofriam calados a mesma angustia que o ente querido do amigo do presidente José Sarney com uma grande diferença, este teve a quem apelar diferentemente do Zé Mané, do Chico Antonio, do Zezinho, do Chiquinho e da Mariazinha todos até então em um verdadeiro ostracismo vivendo com a ausência absoluta do respeito a sua dignidade humana.

É chegado o momento que essa comunidade de homens e mulheres tenha o discernimento e reconhecer a grandiosa força que somos se estivermos todos unidos, somos cidadãos e cidadãs trabalhadores, produtivos, contribuintes e consumidores com plenos direitos políticos e civis a mercê de oportunistas de plantão a tirarem proveito da nossa deficiência, confiança e consciência.

Em 13 de maio de 1988 foi abolida a escravidão no Brasil, será que o negro durante todo esse período conquistou de fato e de direito a plenitude de sua liberdade? Estamos em pleno século XXI, para que os negros atuais descendentes dos remanescentes das senzalas e cativeiros alcançassem sua inclusão de meia boca através de embates e lutas titânicas para conquistar as combatidas e discutidas cotas raciais quando esse segmento garantiu seu espaço nas universidades. Por que não discutirmos em debate nacional envolvendo todos os segmentos da sociedade para criar cotas como garantias de inclusão a pessoa com deficiência na política do Brasil? Esta é uma grande proposta a ser apresentada a reforma política brasileira.

É importante informar que não vislumbro aqui jamais garantir conquista de mandatos a deficientes, sem passar pelo crivo da vontade do eleitor o foco primordial é que seja garantido o direito a ser candidato através da garantia das cotas para que a sociedade tenha conhecimento da nossa existência, quantos somos o que queremos e o que fazemos para desenvolver, evoluir e crescer juntamente com o Brasil.

Atenção: Leia matéria Apoiadores.

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Jornalista Carlos Amorim
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