Temos no Brasil uma vasta legislação federal que concede garantias de direitos a pessoa com deficiência. Existe uma cultura antiguíssima arraigada nas pessoas principalmente nessa região do Brasil, quando o cego é tratado como coitadinho, sem perspectiva, vontade própria, liberdade, independência a soberania. Temos direito a tudo que o cidadão dito normal, isto é, aquele que não tem nenhum tipo de deficiência merece.
Eu com alguns amigos e companheiros cegos, cito, Luis Barroso, Valdir, Tálisson, Chico Costa, Arimatéia, Raimundão e tantos outros costumamos frequentar badalados points, como também lugares simples onde somos recebidos com admiração, carinho e respeito por parte dos presentes, mas tem as exceções, muitas das vezes oriundas da inveja, ciúmes, traumas de quem tem vida miserável e não se conformam ou aceitam que um cego traje-se bem, esteja acompanhado de pessoas de fino trato, gerando antipatias gratuita e retaliações.
Em certa ocasião um ídolo da música popular brasileira esteve aqui em Teresina, hospedou-se em um hotel cinco estrelas; como eu o conheço inclusive chegamos a morar em uma pensão no Rio de Janeiro em épocas de vacas magras quando ele buscava o reconhecimento e sucesso que tem hoje. Ao tomar conhecimento da presença do mesmo em nossa cidade fiz um contato e fui convidado para almoçar com o mesmo, aceitei de imediato. Ao chegar ao hotel fui levado para o restaurante onde o cantor me aguardava, foi aquela festa, conversamos sobre vários assuntos do nosso passado, ele me fez bastante pergunta sobre minha cegueira e concluiu perguntando se eu aceitaria acompanhá-lo tomando o mesmo vinho que ele saboreava, já havia consumido várias daquelas garrafinhas de conteúdo francês, aceitei o convite. Ele mandou que o garçom me servisse; acatado a ordem, vinho servido, quando fui pegar o copo o meu anfitrião bradou em alto e bom som – Tira essa droga daqui; achei estranho mas minutos depois entendi tudo; o garçom por sua deliberação serviu o meu vinho em um copo de vidro enquanto o cantor que estava a meu lado estava sendo servido em uma taça de cristal.
Moral da história: o preconceito, discriminação e exclusão a pessoa com deficiência tem suas variadas atuações e são sutilíssimas. Tudo isso acontece pela falta de conhecimento que gera atitudes que abalam a dignidade de qualquer ser humano.